A proposta foi concretizada num guia prático desenvolvido no âmbito do projeto DELASMOP numa parceria entre o Centro Ciências do Mar do Algarve (CCMAR) e o Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (CIIMAR), e propõe medidas práticas para reduzir a captura acessória de tubarões e raias vítimas da pesca de arrasto dirigida a crustáceos no Algarve.
A pesca de arrasto de crustáceos, embora importante para algumas comunidades costeiras, tem um impacto ambiental considerável e apresenta taxas de rejeição de 70%, o que afeta espécies sem interesse comercial ou sob proteção legal. Entre eles estão raias e tubarões que são frequentemente pescados acessoriamente durante este tipo de pesca. Os dados recolhidos pela equipa de investigadores do projeto revelam que 95% das raias e tubarões capturados acessoriamente nas redes de pesca de arrasto, chegam a bordo mortos ou a morrer. Para agravar o problema, a pressão sobre os recursos costeiros está a empurrar as frotas para zonas cada vez mais profundas, onde vivem espécies ainda pouco conhecidas e de grande importância ecológica.
O “Guia de manuseamento de tubarões e raias para embarcações de pesca de Arrasto” foi desenvolvido no âmbito do projeto DELASMOP, fruto da tese de doutoramento da Sofia Graça Aranha do CIIMAR e do CCMAR com co-orientação da investigadora Ester Dias do CIIMAR e cujo foco de investigação se tem centrado no estudo dos elasmobrânquios de profundidade: tubarões e raias que habitam os ecossistemas marinhos mais inexplorados da costa algarvia.
As espécies em causa
Em março de 2021, durante uma expedição de campo integrada no projeto DELASMOP foram identificadas 15 espécies diferentes de elasmobrânquios de profundidade, incluindo raridades como o tubarão-duende (Mitsukurina owstoni), o enigmático tubarão-cobra (Chlamydoselachus anguineus) e o peculiar peixe-porco-de-vela (Oxynotus paradoxus). A captura acessória torna-se, por isso, uma das principais ameaças à conservação destes animais. Neste contexto, o guia prático agora desenvolvido surge como resposta às ameaças atuais e emergentes.
As recomendações para uma pesca mais sustentável
Apesar da proibição da pesca de arrasto de fundo abaixo dos 800 metros por parte da União Europeia, a atividade persistiu durante os anos em estudo (2018- 2022).
O “Guia de manuseamento de tubarões e raias para embarcações de pesca de Arrasto” surge como uma ferramenta valiosa para apoiar o cumprimento dos compromissos internacionais de Portugal em matéria de conservação marinha, bem como para contribuir para os objetivos do Pacto Ecológico Europeu e da Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030.
Entre as medidas propostas estão estratégias como a seleção de profundidades de pesca com menor abundância de elasmobrânquios, utilização de malhagens de diferentes tamanhos e formas, e a redução do tempo de arrasto. Recomenda ainda a formação e sensibilização das tripulações para o correto manuseamento e identificação das espécies capturadas.
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Fotografia de Sofia Graça Aranha.
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