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Maio 30, 2025

CIIMAR reúne conhecimentos sobre o fenómeno dos rios atmosféricos na Antárctida

O estudo e revela as incertezas decorrentes dos efeitos das alterações climáticas.

Um estudo co-liderado por Irina Gorodetskaya, investigadora do CIIMAR, reúne todos os dados actualizados sobre o fenómeno dos rios atmosféricos na Antárctida e revela as incertezas decorrentes dos efeitos das alterações climáticas.

Os rios atmosféricos são corredores longos e estreitos de transporte horizontal e intenso de humidade na atmosfera e que transportam humidade e calor dos trópicos para os pólos. São um fenómeno climático relativamente novo no domínio da meteorologia e do clima e a sua compreensão mudou muito nos últimos 10 anos.

Um estudo de revisão realizado por uma comunidade internacional de investigadores de dez países, co-liderado pela investigadora do CIIMAR Irina Gorodetskaya, juntamente com Jonathan Wille (ETH, Suíça) e Vincent Favier (IGE, França), reuniu toda a informação sobre o fenómeno dos rios atmosféricos disponível nos últimos 10 anos de investigação. O artigo “Atmospheric rivers in Antarctica” foi publicado na revista Nature Reviews Earth & Environment.

Uma área emergente

Pela sua própria natureza, os rios atmosféricos afectam fortemente os níveis de humidade, a precipitação e a temperatura nas regiões polares. A Antárctida, o grande continente gelado que contém mais de 90% da água doce superficial do mundo, não é exceção. Os últimos 10 anos de investigação sobre este fenómeno climático mostram-nos que, embora os rios atmosféricos pareçam ter um efeito positivo no equilíbrio dos lençóis de gelo ao promoverem a queda de neve, podem também causar a fusão e instabilidade dos lençóis de gelo da Antárctida, contribuindo assim para a perda de massa de gelo da Antárctida e para a subida global do nível do mar.

O facto é que a Antárctida tem vindo a perder massa a um ritmo exponencial desde 1992, com perdas que atingem 150 mil milhões de toneladas de gelo por ano. “Neste contexto, os rios atmosféricos têm sido responsáveis tanto por compensar estas perdas, provocando grandes eventos de queda de neve, como por exacerbar esta perda de massa, induzindo mais eventos de degelo e instabilidade”, explica Irina Gorodetskaya, investigadora do CIIMAR.

Os conhecimentos adquiridos

Nos últimos 10 anos, tornou-se claro que os rios atmosféricos são extremamente importantes para a modelação do clima antártico. O estudo “Atmospheric rivers in Antarctica”, destaca o papel preponderante dos rios atmosféricos na região antárctica e fornece informações sobre os seus factores, bem como sobre os seus impactos no clima antártico e no balanço de massas.

Segundo Irina, “entre os principais processos descritos neste estudo de revisão encontram-se padrões atmosféricos dinâmicos específicos desta região e que parecem influenciar tanto a formação de rios atmosféricos como a sua direção para a Antárctida, para além do impacto da convecção tropical e de fenómenos meteorológicos locais como os ventos de Foehn”.

O que é que o futuro nos reserva?

As alterações climáticas irão provavelmente provocar rios atmosféricos mais fortes, à medida que o aquecimento global aumenta o vapor de água atmosférico. Embora a atual queda de neve em grande escala, causada pelos rios atmosféricos, ajude a Antárctida a ganhar alguma massa, também produz perdas através da fusão e desestabilização das plataformas de gelo. Do ponto de vista da investigadora do CIIMAR, “o impacto final é difícil de avaliar e prever devido a uma série de efeitos não lineares. O que aprendemos com a investigação recente é que, embora a contribuição do degelo causado pelos rios atmosféricos para o balanço total da massa antárctica seja atualmente pequena, pode tornar-se significativa devido ao aquecimento global”.

Irina sublinha também a importância da investigação para compreender melhor estes efeitos: “estas incertezas e questões exigem esforços contínuos de observação e modelação para compreender como os rios atmosféricos evoluirão num clima em mudança”. Compreender a relação entre os rios atmosféricos na Antárctida e o balanço da massa de gelo é crucial para reduzir a incerteza nas projecções climáticas futuras, incluindo o impacto da Antárctida na subida do nível do mar em todo o mundo.

 

Foto de Irina Gorodetskaya. Nuvens baixas e icebergues perto da Península Antárctica. Os rios atmosféricos trazem nuvens e aumentam a queda de neve, mas também podem causar precipitação, derretimento da superfície e desintegração das plataformas de gelo.